Viagem ao Médio Oriente - Exposição na Galeria Municipal de Sintra de 25 de Junho a 13 de Julho de 2005.

Hossana/Dominus Flevit (Na Porta Dourada)

73 x 60 cm
óleo s/ tela

Multiplicação dos Pães e dos Peixes

73 x 60 cm
acrílico e papel s/ tela

Kefar Nahum

60 x 73 cm
óleo s/ tela

Vi(d)a Dolorosa

80 x 100 cm
óleo s/ tela

notas explicativas

Os trabalhos expostos resultam de uma viagem a Israel. Viagem física mas também temporal. Não se trata de uma exposição de carácter religioso, político ou autobiográfico; aflora, contudo, estas três esferas da condição humana.

Os títulos atribuídos às obras expostas, embora referentes a factos históricos ocorridos nos lugares visitados, são apenas um mero pretexto para uma reflexão crítica mais abrangente. Deixo aqui algumas ideias que estiveram na génese destes trabalhos.

Em A Multiplicação dos Pães e dos Peixes homenageia-se a coragem do povo judaico e o respeito pelo seu sofrimento ao longo dos séculos.

Vi(d)a Dolorosa apresenta a cruz que cada Ser Humano carrega ao longo da sua existência, por vezes bem pesada.

No Monte das Bem-Aventuranças apela à humildade e compreensão dos homens para que a nossa tão curta passagem pelo Mundo não seja tão penosa, antes seja bem-aventurada.

Em A Tempestade mostra-se que há que ter esperança e confiança na vida e no futuro, sem medos, apesar dos obstáculos que se têm de enfrentar.

Elias Subindo ao Céu num Carro de Fogo trata-se de um tributo a todos os que sofreram e sofrem pelas religiões, cristãs ou não, crendo em algo que vai para além da vida terrena.

Em Na Última Ceia, tema já bastante representado pela tradição ocidental, conhecemos uns Apóstolos estupefactos que levam a uma reflexão: "Valeu a pena?"

A Transfiguração é uma crítica aos ortodoxismos e fundamentalismos de toda a espécie, impedindo uma sã convivência entre os seres humanos.

A Anunciação simboliza o momento em que uma mulher comunica que vai ser mãe. Homenagem a todas as mães do mundo.

Hossana/ Dominus Flevit (Na Porta Dourada) evoca a humanização, o lado bom, positivo e o lado negativo gerador de guerras e catástrofes. Foi por esta porta que Jesus terá entrado triunfante e foi junto à mesma que terá sido condenado à morte.

Caesarea ou a Vã Glória do Poder refere-se ao efémero poder. Trata-se de uma crítica a todos os que um dia o tiveram nas suas mãos e o usaram contra os dominados, da pior maneira, como Herodes, o todo poderoso que mandou matar o filho para que não lhe roubasse esse poder, que mandou cortar a cabeça a João Baptista e que mandou matar as crianças do território que controlava julgando, assim, que mataria também aquele que intitularam de "Rei dos Judeus". Hoje Cesarea, a cidade de Herodes, é um conjunto de ruínas, nada mais.

Ascensão e Visão do Futuro é uma referência às visões proféticas de Jesus, como na sua entrada triunfal em Jerusalém, onde teve a visão da destruição da Cidade Santa ou na sua ascensão, onde teve a visão dos futuros horrores que a humanidade, em seu nome ou não, desencadeou ao longo destes milénios.

Os desenhos são uma reflexão crítica da vida, dos desgostos e tragédias resultantes da ambição desmedida e arrogância do Ser Humano. Contudo, há a esperança num melhor porvir.

Fernando Martins


A nossa explicação:

É complicado falar da pintura do meu pai. Sei que sempre que sentir o cheiro a tinta de óleo, água rás ou óleo de linhaça, a imagem é imediata. Não existe unidade de tempo tão ínfima para temporizar esta associação. A pintura do pai faz-nos respirar novos cheiros, ouvir novas melodias e dançar com os movimentos que põe em cada traço.
Aquando dos primeiros esboços de A Viagem ao Médio Oriente fiquei reticente. Estava a haver uma transição. Era evidente que começava uma nova fase na sua pintura, quase como se o pai fosse um músico que toda a vida tinha gravado os seus discos num formato analógico e agora passara para o lado digital: a pintura cada vez mais nítida, os traços cada vez mais perfeitos e as escolhas das cores tornou-se automática.

Raquel Martins

Nunca estive em África, mas toda a minha vida está impregnada com as cores e o desenho rigoroso e transfigurativo que o meu pai trouxe na bagagem.
Quase que cheiro e sinto o calor que nunca senti, mas que ele tão bem soube transmitir.
Com esta exposição, posso dizer que conheço o Médio Oriente como a palma da minha mão. Sei que nessa terra terá sido o início de tudo o que conheço por educação, mas, por intuição, sei que lá a sombra é fresca e os contrastes intensos.
O meu pai não me contou muitas histórias para adormecer, mas deixa-me muitos desenhos para me manter bem acordada.

Luísa Martins

No Oriente, contigo, descobri que o que é importante são os momentos de felicidade. Os 30 anos passados com fardos tão pesados servem para te dizer que a luz das tuas cores e o seu brilho resplandecente foi o que ficou nos nossos sonhos.
Obrigada meu amigo, obrigada meu companheiro por tudo o que me ensinaste.
A ti devo a força, a bondade e a alegria de viver.

Dulce Martins


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Lista de obras apresentadas nesta exposição:

  • A Multiplicação dos Pães e dos Peixes - Acrílico e papel s/ tela; 73 x 60 cm
  • Cafarnaum ou Kefar Nahúm - Acrílico s/ tela; 73 x 60 cm
  • Vi(d)a Dolorosa - Óleo s/ tela; 100 x 60 cm
  • No Monte das Bem Aventuranças - Óleo s/ plátex; 85 x 60 cm
  • A Tempestade - Óleo s/ tela; 102 x 76 cm
  • Elias Subindo ao Céu num Carro de Fogo - Óleo s/ tela; 120 x 80 cm
  • Na Última Ceia - Óleo s/ tela; 80 x 80 cm
  • A Transfiguração - Óleo s/ tela 120 x 90 cm
  • A Anunciação - Óleo s/ tela; 100 x 81 cm
  • Hossana/ Dominus Flevit (Na Porta Dourada) - Acrílico s/ tela; 81 x 65 cm
  • Caesarea ou a Vã Glória do Poder - Acrílico s/ contraplacado; 61 x 46,5 cm
  • Ascensão e Visão do Futuro - Óleo s/ tela; 61 x 51 cm
  • e 7 desenhos a tinta da china s/ papel